São Paulo – A programação de sexta-feira de Edison Moraes, dono da empresa atenua som, de São Paulo,é sagrada — tomar café da manhã com 49 donos de pequenas e médias empresas. A reunião começa às 7 em ponto e dura 1 hora e meia. Todos estão ali para apresentar seus negócios e pedir indicações uns aos outros de clientes, investidores, fornecedores e funcionários.
Para um desses encontros, Moraes, de 58 anos, tinha de preparar uma fala de impacto que coubesse nos 50 segundos, marcados num cronômetro, a que cada um tem direito. “Se você tivesse um cavalo de 1 milhão de reais, você daria qualquer tipo de comida a ele? Você, quanto vale? Está cuidando de si mesmo? Minha empresa fabrica portas e janelas que proporcionam o silêncio e a tranquilidade que você precisa para ter qualidade de vida. Atenua Som, a diferença entre morar e viver”, disse solenemente.
Moraes é um dos 140.000 sócios que participam de um dos 6.200 grupos de networking organizados pela Business Network International (BNI), empresa americana que promove cafés da manhã desse tipo em 52 países e que chegou ao Brasil há três anos. O BNI funciona mais ou menos como uma escola onde se aprende a formar uma rede de contatos.
Há um método, lição de casa e castigo – quem se atrasa perde o direito de apresentar sua empresa naquele dia. O desempenho dos alunos é medido em número de indicações. Por tudo isso, paga-se uma anuidade de 1.560 reais. Moraes é o primeiro da classe. Desde que ingressou, em setembro de 2010, indicou 88 potenciais clientes aos colegas.
No mesmo período, sua empresa foi indicada 23 vezes. No ano passado, cinco dessas indicações resultaram em vendas dos produtos da Atenua Som para arquitetos e pessoas que estão construindo ou reformando sua casa e ajudaram a empresa a obter receita de 7 milhões de reais em 2011.
Que bons relacionamentos podem ajudar a vender mais e a levantar capital não é nenhuma novidade. “Uma boa agenda é útil para todo mundo, mas para um empreendedor é absolutamente indispensável”, diz Ellen Rudnick, professora da escola de empreendedorismo da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos.
“Como não há tantos recursos como numa grande empresa, é preciso contar com a ajuda de outras pessoas.” A novidade, no Brasil, é a recente proliferação de grupos que, como o BNI, se dedicam exclusivamente à prática de networking. Não existe um levantamento de quantos desses grupos existem no país – mas é certo que o empreendedor que se interessar não terá dificuldade para encontrar um.
“O surgimento de tantos eventos desse tipo é um reflexo da importância que as pequenas e médias empresas estão conquistando na economia”, diz Ellen.
O americano Ivan Misner, fundador do BNI, notou que a maioria dos empreendedores tem dificuldade para formar uma rede de contatos. Muitos não sabem por onde começar ou ficam constrangidos ao abordar um desconhecido num coquetel ou no intervalo de um seminário. Os que vencem a timidez geralmente não sabem muito bem o que dizer.
E, entre os poucos que causam uma boa impressão, uma minoria consegue transformá-la num relacionamento que resulte em negócios. “Isso acontece por falta de conhecimento e de disciplina”, diz Misner. “Quem acha que fazer networking é distribuir cartões de visita, provavelmente está só perdendo tempo.”
Misner desenvolveu um método em que se pratica o mandamento número 1 do networking – dar para receber. Ao final de cada reunião, os empreendedores devem dar satisfação do que fizeram em prol do grupo durante a semana. “Espera-se que cada participante tenha, no mínimo, uma contribuição”, diz Marcos Martins, diretor do BNI no Brasil.
Pode ser, por exemplo, uma indicação que um colega pediu no encontro passado. De acordo com Misner, em 2011 esses deveres de casa ajudaram os membros do BNI a fechar negócios de 3 bilhões de dólares em todo o mundo com base em 6,8 milhões de indicações.